Quando se fala em velocidade extrema, é natural pensar em carros de Fórmula 1, aviões supersônicos ou até atletas de elite. Mas, no topo da lista, está um feito ligado à exploração espacial: a maior velocidade já atingida por um ser humano aconteceu em 1969, durante uma missão que não chegou a pousar na Lua, mas preparou terreno para um dos momentos mais marcantes da história.
A missão Apollo 10, realizada dois meses antes da famosa Apollo 11, levou três astronautas norte-americanos a velocidades jamais experimentadas por outro ser humano. Na fase de reentrada da cápsula na atmosfera terrestre, a nave atingiu impressionantes 39.937,7 quilômetros por hora. Para se ter uma ideia, essa velocidade é quase 32 vezes maior do que a de um avião comercial e o suficiente para dar uma volta ao redor da Terra em pouco mais de uma hora.
Quem foram os protagonistas

A tripulação da Apollo 10 era composta por Thomas P. Stafford, John W. Young e Eugene Cernan. A missão partiu da Terra no dia 18 de maio de 1969 e chegou à órbita lunar três dias depois. O objetivo era testar todos os procedimentos da missão lunar real, sem, no entanto, pousar na superfície. Foi um ensaio geral, que garantiu o sucesso da Apollo 11.
Durante a missão, o módulo lunar, apelidado de Snoopy, foi separado da nave principal e desceu até 14,4 quilômetros da superfície da Lua, conduzido por Stafford e Cernan. Enquanto isso, Young permaneceu no módulo de comando, chamado Charlie Brown, orbitando a cerca de 97 quilômetros de altitude. O sucesso dos testes garantiu que tudo estaria pronto para o pouso histórico de Neil Armstrong dois meses depois.
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Como foi alcançada essa velocidade
A altíssima velocidade foi registrada no retorno da missão à Terra, durante a reentrada na atmosfera. A força gravitacional da Lua, combinada à velocidade de retorno e ao atrito com a atmosfera terrestre, proporcionou esse pico de velocidade. Esse processo é conhecido por entrada atmosférica, uma fase crítica de qualquer missão espacial por causa da intensa desaceleração e do calor gerado pelo atrito.
Eugene Cernan, anos depois, descreveu a experiência como “envolto em chamas brancas e violetas”, um retrato da intensidade do momento. O módulo usou a resistência da atmosfera para reduzir a velocidade e, depois, três grandes paraquedas foram abertos para garantir um pouso seguro no Oceano Pacífico.
Desde então, esse recorde permanece intocado por missões tripuladas. Isso não significa que a tecnologia não tenha evoluído, mas sim que nenhuma outra missão exigiu um retorno em velocidade tão alta.
Comparações e outras marcas
É importante diferenciar entre a velocidade alcançada por um humano dentro de uma nave e a velocidade de objetos criados pelo ser humano. A sonda Parker Solar Probe, por exemplo, atingiu, em 2024, 692 mil quilômetros por hora ao se aproximar do Sol, o maior registro já feito de velocidade por um artefato humano. Mas, por ser uma missão não tripulada, esse dado não entra na lista de feitos diretamente humanos.
Na Terra, o recorde de velocidade em solo pertence ao norte-americano Andy Green, que pilotou o carro-foguete ThrustSSC e atingiu 1.227,9 km/h em 1997 no deserto de Nevada. Em voos atmosféricos, o avião X-15, da NASA, pilotado por William J. “Pete” Knight, alcançou 7.273 km/h em 1967. Apesar de impressionantes, esses números ainda estão bem abaixo do recorde da Apollo 10.
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Velocidade e percepção humana
Um estudo recente, publicado na revista Communications Physics em maio de 2025, mostrou como objetos se deformam visualmente quando se aproximam da velocidade da luz. A pesquisa, conduzida por cientistas da Universidade de Tecnologia de Viena, comprovou um efeito previsto por Einstein: a chamada “distorção espacial”. Isso ajuda a entender os desafios extremos enfrentados por engenheiros e astronautas ao lidar com velocidades tão altas.
Apesar da velocidade da luz, cerca de 1 bilhão de km/h, estar completamente fora do alcance da tecnologia atual, avanços continuam sendo feitos em direção a propulsões mais rápidas. A NASA, por exemplo, trabalha com conceitos de propulsão elétrica e nuclear para futuras missões interplanetárias, como as previstas para Marte.
Entender o que já foi alcançado em termos de velocidade humana ajuda a dimensionar o que é possível quando ciência, tecnologia e coragem se encontram. Os feitos da Apollo 10 fazem parte da história da exploração espacial, da engenharia, da física e da capacidade humana de enfrentar o desconhecido.
Para a equipe do site Mundo Igual, isso só reforça o quanto somos capazes de romper limites. A história da maior velocidade já alcançada por um ser humano nos lembra que, mesmo em um mundo tão acelerado, ainda há espaço para se surpreender com o que fomos, e ainda seremos, capazes de realizar.