Escondido nas paisagens geladas da Península de Kola, no extremo norte da Rússia, existe um buraco que ultrapassa qualquer construção subterrânea feita pelo ser humano: o Poço Superprofundo de Kola. Pouco conhecido do grande público, ele foi escavado por cientistas soviéticos durante a Guerra Fria e atingiu impressionantes 12,2 quilômetros de profundidade. É, até hoje, o ponto mais profundo da crosta terrestre já alcançado pela humanidade.
Apesar de parecer cenário de ficção científica, o projeto foi real e consumiu duas décadas de trabalho. A iniciativa começou em 1970 e foi interrompida em 1992, devido a uma combinação de problemas técnicos, custo elevado e mudanças políticas após o colapso da União Soviética. Atualmente, a entrada do poço está selada por uma pesada tampa de metal, localizada em uma instalação abandonada.
Perfurar a crosta terrestre até esse ponto exigiu esforço técnico considerável. A equipe soviética enfrentou dificuldades crescentes à medida que a broca descia, principalmente devido às altas temperaturas. Quando atingiram a profundidade máxima, o calor era de cerca de 180 °C, quase o dobro do que os cientistas haviam estimado inicialmente. Isso tornou a perfuração mais profunda tecnicamente inviável, já que as brocas convencionais não resistiam a esse ambiente extremo.
Além disso, o solo se tornava cada vez mais denso e resistente. A pressão e o calor modificavam as propriedades das rochas, o que exigia soluções inovadoras para continuar os trabalhos. Embora o objetivo fosse alcançar o manto terrestre, essa camada permanece fora do alcance direto da humanidade até hoje.
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Mais do que uma corrida por recordes, o projeto buscava entender melhor a estrutura da crosta terrestre. O Poço de Kola forneceu aos cientistas amostras valiosas de rochas antigas, datadas de mais de 2 bilhões de anos. A iniciativa também revelou surpresas inesperadas, como a presença de água em profundidades onde se acreditava que era impossível existir líquido livre, contrariando teorias geológicas vigentes na época.
O interesse científico incluía estudar ondas sísmicas, composição do solo em camadas profundas e fenômenos geotérmicos. Tudo isso com o intuito de ampliar o conhecimento sobre a Terra, algo importante não só para a ciência, mas também para áreas como mineração, energia e prevenção de desastres naturais.
Mitos locais surgiram ao redor do buraco, especialmente após o fim do projeto. Há quem diga que se escutavam “sons do inferno” vindos do fundo. Claro, essas histórias fazem parte mais do imaginário popular do que da realidade científica. A verdade é que hoje o local está isolado, sem uso prático, mas ainda desperta curiosidade, tanto de estudiosos quanto de turistas aventureiros.
Apesar da profundidade impressionante, o Poço de Kola representa apenas cerca de um terço da distância até o manto terrestre. Para comparação, a espessura média da crosta sob os continentes é de cerca de 40 km, e o manto tem mais de 2.900 km de profundidade.
O Poço de Kola não foi o único projeto ambicioso nesse sentido. Durante a Guerra Fria, houve uma espécie de “corrida subterrânea” entre potências como Estados Unidos, Alemanha e Japão.
Nos anos 1960, os EUA iniciaram o chamado Projeto Mohole, tentando perfurar a crosta no fundo do mar, onde ela é mais fina. A ideia era começar pelo oceano Pacífico, perto do México, mas o projeto foi abandonado por falta de financiamento. Já os alemães iniciaram em 1990 o KTB (Kontinentales Tiefbohrprogramm), que atingiu cerca de 9 km de profundidade na Baviera, enfrentando temperaturas elevadas e dificuldades com a verticalidade do buraco.
Atualmente, o Japão lidera um projeto ambicioso para alcançar o manto usando o navio de perfuração Chikyū. A embarcação tem sistemas avançados de posicionamento e já participou de perfurações oceânicas profundas. A iniciativa visa coletar amostras diretas do manto, algo inédito na história. No entanto, os custos são altíssimos, estimados em mais de 1 bilhão de dólares, e o desafio técnico permanece grande.
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O interesse científico por escavações profundas está relacionado ao desejo de compreender como a Terra funciona por dentro. Isso pode parecer algo distante da vida cotidiana, mas tem aplicações práticas. Compreender as camadas da Terra ajuda na previsão de terremotos, na exploração de petróleo e minerais, e até em avanços tecnológicos voltados para geotermia, fonte de energia renovável baseada no calor interno do planeta.
Além disso, ao estudar as rochas mais antigas do planeta, os geólogos conseguem reconstruir eventos antigos que moldaram a crosta terrestre, oferecendo pistas sobre a origem da vida e os processos que mantêm nosso planeta habitável.
Hoje, o Poço Superprofundo de Kola está fechado, mas não deixeou de ser importante para a ciência. Ele representou um dos maiores esforços já feitos para entender as profundezas da Terra, mesmo que não tenha atingido o objetivo final de alcançar o manto.
Esse tipo de projeto nos mostra os limites do conhecimento humano e os desafios tecnológicos ainda existentes. Ao mesmo tempo, reforça como a curiosidade científica pode nos levar a lugares inesperados, inclusive para dentro do nosso próprio planeta.
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