Muito antes da escrita digital, dos livros impressos e até mesmo das primeiras bibliotecas de pedra, os humanos já buscavam formas de se comunicar. O desejo de trocar ideias, organizar a vida em grupo e transmitir saberes levou à criação das primeiras línguas. Mas qual foi a primeira de todas? Essa é uma pergunta que intriga pesquisadores há séculos e que ainda hoje não tem uma resposta definitiva.
Entre registros arqueológicos, estudos linguísticos e fragmentos preservados em tabuletas de argila, o sumério aparece com frequência como o idioma mais antigo já documentado. Porém, essa é apenas uma parte de uma história mais ampla e cheia de nuances.
A importância da linguagem para a civilização
A linguagem é uma das marcas que distingue os seres humanos de outras espécies. Ela possibilita o planejamento, a memória coletiva, o ensino, as narrativas, os rituais e a religião. Desde os tempos mais remotos as palavras, faladas ou escritas, ajudaram as sociedades a evoluir, a construir cidades e a formar culturas complexas.
As primeiras formas de linguagem provavelmente surgiram muito antes da escrita. No entanto, o que os pesquisadores conseguem estudar com mais precisão são os idiomas que deixaram registros materiais. E nisso, a arqueologia e a linguística se encontram.
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Sumério, o idioma que abriu caminho

O sumério, falado na antiga região da Mesopotâmia (atual sul do Iraque), por volta de 3100 a.C., é considerado o idioma mais antigo de que se tem registro escrito. Os primeiros textos sumérios foram gravados em tabuletas de argila por meio da escrita cuneiforme, um sistema de símbolos em forma de cunha que inicialmente representava objetos e ações, e com o tempo passou a expressar sons e ideias mais complexas.
O que torna o sumério ainda mais intrigante é que ele é classificado como uma “língua isolada”, ou seja, até hoje não se descobriu nenhum outro idioma com ligação direta a ele. Isso levanta dúvidas sobre suas origens e sobre as conexões que possa ter tido com línguas ainda mais antigas, não documentadas.
Mesmo depois de ter deixado de ser falado por volta de 2000 a.C., ele continuou sendo usado por escribas e sacerdotes nas cerimônias e nos textos sagrados das civilizações da Babilônia e da Assíria. Por isso, sua influência permaneceu viva por muitos séculos.
A invenção da escrita e sua ligação com a língua
A escrita cuneiforme, criada pelos sumérios, foi uma das maiores transformações da história humana. A necessidade de registrar trocas comerciais, leis, eventos históricos e rituais religiosos levou à criação desse sistema que marcou o início da história registrada. Isso diferencia o sumério de outras línguas orais que existiram na mesma época, mas das quais não restaram registros materiais.
Vale lembrar que a escrita não surgiu sozinha. Ela é o produto de sociedades organizadas, com burocracia, religião e comércio. Portanto, o nascimento da escrita está diretamente relacionado ao desenvolvimento urbano e político da humanidade.
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Outras línguas antigas

Embora o sumério seja frequentemente apontado como o mais antigo idioma registrado, ele não está sozinho na lista das línguas milenares. Outras línguas surgiram pouco depois e algumas delas resistem até hoje.
1. Egípcio antigo
A língua dos faraós surgiu por volta de 2600 a.C. e é famosa por seu sistema de hieróglifos. Ela evoluiu ao longo dos séculos e originou o copta, ainda usado em contextos religiosos na Igreja Copta do Egito.
2. Acádio
Falado também na Mesopotâmia a partir de 2500 a.C., o acádio pertence à família semítica, sendo antecessor de línguas como o hebraico e o árabe. Era a língua do império da Babilônia e deixou milhares de textos escritos.
3. Tâmil
Com registros escritos a partir de 500 a.C., acredita-se que essa língua do sul da Índia seja muito mais antiga. É um dos poucos idiomas clássicos ainda falados hoje, com dezenas de milhões de falantes.
4. Sânscrito
Usado nos antigos textos sagrados da Índia, como os Vedas, o sânscrito surgiu por volta de 1500 a.C. e exerceu forte influência sobre várias línguas do sul da Ásia. Ainda hoje é estudado em contextos religiosos e acadêmicos.
5. Avéstico
Menos conhecido, esse idioma era utilizado nos textos religiosos do zoroastrismo, religião que surgiu no atual Irã. É uma das primeiras línguas indo-iranianas registradas.
Uma resposta que ainda escapa
A busca pela primeira língua do mundo esbarra em limitações. Como a linguagem oral não deixa vestígios físicos, tudo o que sabemos sobre os primeiros idiomas vem de registros escritos, o que exclui muitas línguas que podem ter existido por milênios sem nunca terem sido registradas.
Além disso, os idiomas mudam com o tempo. Mesmo o sumério, em seus primeiros registros, já devia estar em uso há muito tempo antes de ser escrito. Por isso, é possível que tenha havido línguas ainda mais antigas, perdidas no tempo.
A língua mais antiga ainda em uso
Enquanto muitas línguas antigas desapareceram ou se transformaram em outras, algumas conseguiram atravessar os séculos. É o caso do tâmil, considerado por muitos estudiosos como o idioma mais antigo ainda em uso contínuo. É falado por cerca de 80 milhões de pessoas em países como Índia, Sri Lanka e Malásia.
O sânscrito, apesar de não ser usado na comunicação do dia a dia, também continua presente em rituais religiosos e estudos literários. Já o hebraico, que havia deixado de ser falado como língua nativa por séculos, foi revitalizado no século XX e hoje é a língua oficial de Israel.
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A ligação com as nossas origens
Estudar as línguas antigas é mais do que descobrir palavras esquecidas. É acessar visões de mundo, modos de pensar e de viver de povos que mudaram a humanidade. Esses idiomas revelam como diferentes culturas compreendiam a natureza, os deuses, o tempo e a própria existência.
Para o site Mundo Igual, que busca entender as conexões humanas, culturais e históricas que nos unem, refletir sobre as primeiras línguas é uma forma de reconhecer a importância da comunicação como base da civilização. Afinal, foi por meio da linguagem que os povos do passado construíram as pontes que, até hoje, ligam gerações inteiras.
E, se a linguagem é o que nos permite contar histórias, talvez os ecos dessas línguas antigas ainda estejam presentes nas palavras que usamos todos os dias, mesmo que não percebamos.