O documentário El Pepe: Uma Vida Suprema, dirigido por Emir Kusturica, é um retrato profundamente humano e filosófico de José “Pepe” Mujica, o presidente mais humilde do mundo.
Com o pano de fundo da simplicidade de seu cotidiano, Mujica fala sobre a vida, o tempo, o poder e a essência da liberdade, despido de qualquer aparência de autoridade.
O cineasta não apresenta só um político, mas um pensador que vive de acordo com suas ideias, um Sócrates moderno que rejeita o materialismo e defende uma vida com significado e solidariedade. O filme é uma homenagem à dignidade humana e à política como ato de serviço, não de poder.
O “presidente mais pobre do mundo” faleceu aos 89 anos
José “Pepe” Mujica, o lendário ex-presidente do Uruguai e símbolo mundial de governança simples e ética política, faleceu aos 89 anos. A notícia foi confirmada por meio de uma publicação do atual presidente do país, Yamandú Orsi, que prestou homenagem a um homem que, segundo ele, “ensinou ao mundo que o poder não significa privilégios, mas oferta”.
Nascido em 20 de maio de 1935 em Montevidéu, Mujica personificou como poucos a trajetória histórica da luta armada à democracia parlamentar.
Na década de 1960, ingressou no Movimiento de Liberación Nacional, Tupamaros, um movimento guerrilheiro de esquerda que lutava contra o governo autoritário da época. Por sua atuação, foi preso e passou um total de 13 anos na prisão (1972–1985), frequentemente em regime de isolamento e sob tortura.
Com o retorno da democracia, não buscou vingança, mas participação. Ingressou na ampla coalizão de esquerda Frente Amplio e foi eleito deputado em 1989. Posteriormente, tornou-se senador e, entre 2005 e 2008, atuou como ministro da Agricultura no governo de Tabaré Vázquez.
Em 2010, foi eleito presidente do Uruguai e permaneceu no cargo até 2015. Seu mandato foi marcado por reformas sociais ousadas, como a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo, a descriminalização do aborto e a primeira regulamentação estatal mundial da venda de maconha.
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Razões pelas quais era querido em todo o mundo
Além de suas políticas, Mujica tornou-se mundialmente famoso por sua vida pessoal: recusou o luxuoso palácio presidencial e residia em sua chácara com sua esposa, Lucía Topolansky, também militante dos Tupamaros e posteriormente vice-presidente do país.
Em vez de carros blindados e superluxuosos, preferia dirigir um antigo Volkswagen Fusca, doava 90% de seu salário para programas sociais e proclamava que “quem vive com pouco é realmente rico”.
Em entrevistas, frequentemente falava sobre o consumismo, a perda de valores e a necessidade de uma política com significado. “Não sou pobre. Tenho o suficiente para viver. A pobreza está na mente, não no bolso”, disse em um discurso que comoveu as Nações Unidas em 2013.
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Pepe Mujica: a retirada da cena política e o fim
Após deixar a presidência em 2015, retornou brevemente ao Senado, mas renunciou definitivamente em 2020, alegando motivos de saúde e idade avançada. “Amo a política, mas amo mais a vida”, declarou emocionado no parlamento, recebendo aplausos de amigos e adversários.
Em 2024, foi diagnosticado com câncer no esôfago, que posteriormente se espalhou para o fígado. Embora inicialmente tenha respondido ao tratamento, sua condição piorou nos últimos meses. Como havia mencionado publicamente sua esposa, Mujica recebia apenas cuidados paliativos. Semanas antes de sua morte, teria dito: “Sinceramente, estou morrendo. Mas não me importo, pois tive uma vida plena”.
Até hoje, suas palavras são lembradas em redes sociais e movimentos em todo o mundo. “A política não é uma profissão, é uma paixão. E se não for para o bem comum, então é uma fraude”, disse ele. E foi exatamente isso que Pepe Mujica representou: uma política com alma, que não mediu poder em votos ou riquezas, mas em dignidade e coerência.
O Uruguai lamenta a perda de um dos últimos grandes políticos com integridade. O mundo se despede de um “guerrilheiro do coração”. Não há dúvida de que ele é imortal nos corações dos uruguaios e de todos que o admiravam.