Ao se falar dos rios mais impressionantes do planeta, normalmente vêm à mente o Amazonas, por seu volume gigantesco, ou o Nilo, conhecido por seu extenso percurso. No entanto, longe dos holofotes das grandes bacias hidrográficas, um rio com características muito diferentes carrega um título ainda mais antigo: o de rio mais velho do mundo. Estamos falando do rio Finke, localizado na árida região central da Austrália.
Também conhecido como Larapinta pelos povos aborígenes locais, o Finke é um rio que, à primeira vista, nem parece um rio tradicional. Na maior parte do ano, ele é apenas um leito seco e pedregoso. A água só aparece em períodos de chuva intensa, o que contribui para que muitos nem sequer o notem. Mas, por trás dessa aparência modesta, há uma história que remonta a cerca de 350 a 400 milhões de anos.
Como se descobre a idade de um rio?
Antes de mais nada, pode ser que você esteja se perguntando como é possível saber a idade que um rio tem. Na verdade, determinar a idade de um rio é uma tarefa complexa, que envolve diversos campos da geologia. Diferente de fósseis ou rochas que podem ser datados com técnicas específicas, os rios são sistemas dinâmicos e mudam constantemente ao longo do tempo. Por isso, os cientistas precisam observar pistas indiretas.
Entre os fatores analisados estão a geologia da região, a idade das montanhas ao redor e os padrões de erosão. Um dos principais indícios vem das chamadas “meandros encaixados”, que são curvas do rio esculpidas em áreas montanhosas. Esses meandros indicam que o rio já existia antes da elevação das montanhas, o que sugere uma origem muito antiga.
No caso do Finke, esses traços geomorfológicos são claros: ele corta as Montanhas MacDonnell, que começaram a se formar há cerca de 300 milhões de anos. Isso significa que o rio já corria naquela região antes mesmo da formação total dessas estruturas, o que reforça a hipótese de sua antiguidade extrema.
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Uma história que se mistura com a cultura local

Além da análise geológica, o Finke carrega consigo uma forte conexão cultural. Para os povos aborígenes da região, o rio é parte fundamental da mitologia ancestral. Segundo lendas, ele foi moldado pela Serpente Arco-Íris, uma figura sagrada que percorreu o território criando rios, montanhas e outros elementos da paisagem. Esse vínculo cultural milenar reforça a importância do Finke tanto como formação geológica quanto como parte da identidade da região.
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Rios antigos em outros cantos do mundo
Embora o Finke seja o rio mais antigo do mundo, ele não está sozinho no ranking dos rios com idades impressionantes. Outros exemplos mostram como a história da Terra está registrada nos cursos d’água.
Na América do Norte, por exemplo, o Rio New, que atravessa os estados da Carolina do Norte, Virgínia e Virgínia Ocidental, já foi considerado o segundo rio mais antigo do mundo. Estima-se que ele possa ter entre 10 e 360 milhões de anos, mas esses números ainda são debatidos. Curiosamente, seu nome pode confundir, já que “New River” em inglês significa “Rio Novo”.
Já na Europa, o rio Meuse, que percorre a França, Bélgica e Países Baixos, também está na lista dos mais antigos. Sua idade é estimada entre 320 e 340 milhões de anos. Assim como o Finke, ele também mostra traços geológicos que indicam um passado remoto.
Estudar rios antigos como o Finke é mais do que uma curiosidade histórica. Eles ajudam os cientistas a entender como o planeta se transformou ao longo de centenas de milhões de anos. Essas formações oferecem pistas sobre o movimento das placas tectônicas, os padrões de erosão, mudanças climáticas e até mesmo a evolução das formas de vida.
É interessante pensar em como esses rios resistiram a diversos eventos geológicos, incluindo a elevação de cadeias montanhosas, variações no nível do mar e até grandes extinções em massa.
Em tempos de intensas mudanças ambientais e alterações climáticas, o estudo de formações naturais tão antigas reforça a importância de preservar paisagens e ecossistemas. Embora o Finke não tenha o volume de água ou a importância econômica de outros rios, sua existência nos faz refletir sobre a passagem do tempo e sobre como a Terra guarda registros vivos de eras quase inimagináveis.
E aí, você já sabia qual era o rio mais antigo do mundo?