No extremo sudeste da Ásia, um pequeno território chama atenção pela eficiência, organização e, principalmente, pela limpeza: Singapura. Com pouco mais de 700 km² de extensão e uma população de cerca de 5,9 milhões de habitantes, essa cidade-estado conquistou o título de “cidade mais limpa do mundo”, segundo levantamento da revista Travel + Leisure em parceria com a empresa Eagle Dumpster Rental, especializada em gestão de resíduos.
A avaliação considerou diversos critérios, como produção de lixo por habitante, sistemas de reciclagem, infraestrutura urbana, transporte público e percepção da população local e de turistas. O resultado aponta Singapura como um modelo internacional de planejamento urbano sustentável.
Limpeza como política de Estado
Desde os anos 1960, Singapura adota uma política pública conhecida como “Clean and Green” (Limpa e Verde). Implantada logo após a independência do país, essa diretriz foi fundamental para moldar a imagem que Singapura tem hoje. Além da limpeza física, a ideia era criar uma cultura de responsabilidade ambiental e coletiva.
O cumprimento dessas regras é garantido por leis rígidas e multas severas. Jogar lixo na rua, por exemplo, pode render uma multa de até 2.000 dólares singapurianos (cerca de R$ 7.700). Reincidentes podem ser obrigados a prestar serviços comunitários, como limpar áreas públicas, uma medida que reforça a dimensão educativa da punição.
O resultado prático dessas regras é visível nas ruas, praças, transportes e áreas verdes da cidade. Em Singapura, jogar papel no chão ou cuspir na calçada não é somente um comportamento malvisto: é uma infração.
Leia mais: Qual é o buraco mais fundo do mundo e por que colocaram uma tampa nele?
Tecnologia a serviço do meio ambiente

A estrutura urbana de Singapura também contribui para a manutenção da limpeza. Um dos destaques é o sistema NEWater, que transforma águas residuais em potáveis, sendo reutilizadas principalmente para fins industriais. A cidade-estado também abriga o aterro sanitário de Semakau, um projeto que combina incineração de resíduos para geração de energia com preservação ambiental em uma ilha artificial.
Essas soluções demonstram o uso eficiente de tecnologia para enfrentar desafios urbanos. Além disso, a cidade investe fortemente em transporte público, reduzindo a dependência de veículos particulares e, consequentemente, as emissões de poluentes.
Natureza em meio ao concreto
Outro ponto que chama atenção é a presença marcante de áreas verdes. Mesmo sendo altamente urbanizada, Singapura abriga parques verticais, jardins suspensos e estruturas conhecidas como “superárvores”, torres de concreto cobertas por vegetação, que ajudam na purificação do ar e no controle de temperatura.
Esses espaços são parte de uma estratégia mais ampla de integração entre natureza e cidade. A meta do governo é que até 2030 pelo menos 85% da população viva a menos de 10 minutos a pé de um parque.
Educação ambiental como base
Mais do que punir, Singapura aposta na formação de uma consciência ambiental coletiva. Campanhas educativas, programas escolares e ações públicas fazem parte do cotidiano da população. Isso garante não só a manutenção das políticas, mas a adesão da sociedade ao projeto de cidade limpa.
Esse senso de responsabilidade coletiva é um dos fatores que diferencia Singapura de outras metrópoles. A limpeza não depende só do trabalho de varredores ou da fiscalização, mas da participação ativa dos cidadãos.
Leia mais: Brasil x Portugal: 9 palavras que parecem iguais e significam outra coisa
Outras cidades no ranking
Embora Singapura tenha conquistado o primeiro lugar, outras cidades também se destacam pela limpeza e sustentabilidade.
Copenhague, capital da Dinamarca, aparece logo atrás. A cidade europeia investe fortemente em energias renováveis e mobilidade sustentável. Cerca de 62% dos moradores usam a bicicleta como principal meio de transporte, e o programa “Copenhagen Circular” facilita a triagem e o reaproveitamento de resíduos urbanos.

Além disso, Copenhague tem áreas verdes bem distribuídas e utiliza tecnologias como big data e inteligência artificial para otimizar o consumo de energia e água em prédios públicos.
Já Praga, na República Tcheca, chama atenção pelo equilíbrio entre urbanização e preservação ambiental. Com quase 40% do seu território coberto por áreas verdes, a cidade mantém baixos índices de geração de resíduos por habitante e aposta na convivência entre natureza e vida urbana. Trilhas, parques, reservas e revitalizações constantes ajudam a manter a qualidade ambiental da capital tcheca.

Leia mais: Esta é a data do fim do mundo, segundo Isaac Newton (e ela está chegando)
O outro lado do ranking

Em contraste com esses exemplos, o levantamento apontou Roma, na Itália, como uma das cidades com pior desempenho em limpeza urbana. O principal problema identificado foi a má gestão de resíduos, agravada por uma infraestrutura obsoleta. Moradores e turistas relatam dificuldade no descarte de lixo e acúmulo de resíduos em áreas públicas, o que compromete a imagem da cidade.
Leia mais: Qual será o país com mais visitantes no mundo em 2025? Veja o que fazer nele
Um modelo que levanta reflexões
A experiência de Singapura reforça que políticas públicas, tecnologia e consciência coletiva podem transformar a realidade urbana. Apesar das medidas rígidas, a cidade conseguiu engajar sua população em práticas sustentáveis, mantendo um padrão de limpeza que se tornou referência mundial.
É importante lembrar que a limpeza de uma cidade não depende apenas de varredores ou campanhas pontuais. Ela é reflexo de escolhas coletivas, de planejamento e de um compromisso contínuo com o bem comum.
Enquanto algumas cidades ainda lutam com problemas básicos de descarte de lixo, outras mostram que é possível alcançar altos níveis de qualidade ambiental mesmo em áreas densamente urbanizadas. Isso exige investimento, planejamento e, principalmente, participação social. Afinal, cidades limpas não nascem prontas, elas são construídas todos os dias.