Quando se fala no clima de Goiás, é natural imaginar paisagens secas, sol forte e temperaturas elevadas. Afinal, o estado está no coração do Cerrado brasileiro, uma região marcada pelo calor intenso e estações bem definidas. No entanto, longe dos holofotes e fora do imaginário popular, existe uma cidade goiana que quebra esse padrão: Cristalina, localizada no Entorno do Distrito Federal, é oficialmente a cidade mais fria do estado, e poucas pessoas sabem disso.
Por que ela é a cidade mais fria de Goiás?

Com altitudes que superam os 1.200 metros acima do nível do mar, Cristalina registra, com frequência, temperaturas mínimas abaixo dos 5 °C durante os meses de inverno. O relevo plano da região, aliado ao solo arenoso, favorece a rápida perda de calor à noite. Isso significa que, mesmo após dias relativamente quentes, as noites e madrugadas podem ser bastante geladas, principalmente entre junho e julho, quando a atuação de massas de ar polar vindas do Sul do país é mais intensa.
Essa combinação de fatores naturais torna Cristalina um ponto fora da curva no clima goiano. Apesar de não ter a fama de cidades turísticas da Serra da Mantiqueira ou da região Sul, o município surpreende ao liderar os registros de frio em um estado tradicionalmente quente.
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A rotina em dias frios
Durante o inverno, o cenário em Cristalina é bem diferente do restante do estado. Logo nas primeiras horas da manhã, ruas costumam amanhecer cobertas por neblina e a população recorre a agasalhos pesados, gorros e cachecóis para encarar o frio. Cafés e padarias abrem mais cedo e passam a ser ponto de encontro para um café quente, uma forma de amenizar as baixas temperaturas.
Apesar de os dias gelados serem concentrados em poucos meses do ano, eles impactam diretamente a vida cotidiana. É comum ver crianças indo para a escola bem agasalhadas, enquanto os adultos improvisam meios de aquecer suas casas, já que muitas construções não são preparadas para o frio. O comércio local também se adapta, com aumento nas vendas de cobertores, aquecedores portáteis e roupas térmicas.
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Outras cidades que também enfrentam baixas temperaturas
Embora Cristalina lidere o ranking, outras cidades goianas também apresentam temperaturas consideravelmente baixas no inverno. Anápolis, por exemplo, está situada a cerca de 1.000 metros de altitude e registra médias entre 7 °C e 10 °C nos meses mais frios. A cidade, que fica entre Goiânia e Brasília, é conhecida pelas manhãs frias, vento gelado e céu nublado ao amanhecer.
No sudoeste do estado, Jataí também se destaca. Mesmo sem grande altitude, sua vegetação de campo aberto e a ausência de barreiras naturais favorecem a queda rápida de temperatura durante a noite. Já houve registros abaixo dos 6 °C em anos anteriores, especialmente em momentos de atuação intensa de frentes frias.
Catalão, Morrinhos e Rio Verde completam a lista de cidades goianas que convivem com o frio sazonal. Todas estão localizadas em regiões elevadas ou com vegetação e relevo que facilitam a perda de calor noturno, além de estarem sujeitas à influência de massas de ar frio vindas do Sul.
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Por que muita gente não conhece Cristalina?
A pouca visibilidade de Cristalina pode ser explicada por diversos fatores. Embora esteja relativamente próxima da capital federal, a cidade não costuma ser foco turístico nem é muito divulgada nos meios de comunicação. Sua economia é fortemente baseada na agricultura irrigada, com destaque para a produção de grãos e horticultura, o que atrai mais o olhar de investidores do que de visitantes casuais.
Cristalina também não é reconhecida como destino de inverno, como ocorre com cidades de Minas Gerais, São Paulo e do Sul do país. Isso contribui para que seu clima frio passe despercebido por boa parte dos brasileiros, inclusive entre os próprios goianos.
Em um país continental como o Brasil, diferenças de clima, geografia e hábitos podem ocorrer até dentro de uma mesma unidade da federação, e esse é um exemplo direto disso. A realidade de Cristalina mostra como um lugar fora do circuito turístico pode carregar características inesperadas que interferem na rotina, na economia e na cultura local.
Além disso, o frio na cidade levanta discussões interessantes sobre infraestrutura, adaptação urbana e até impactos ambientais. Em regiões onde o frio é exceção, populações não estão necessariamente preparadas para lidar com ele, tanto em casa quanto nos serviços públicos, como escolas e hospitais. Cristalina mostra que mesmo lugares “quentes por natureza” precisam se ajustar à diversidade climática, por mais passageira que ela seja.